Como nos velhos tempos
(Aluna: Taynara Leszcgynski)
Os momentos passam, as pessoas se
vão, a vida muda, o progresso aumenta, e de minha tão amada
época só ficaram lembranças. Minha casa era pequena, um berço de humildade, construída com madeira lascada de pinheiro, não existia
energia elétrica, tínhamos apenas um lampião de querosene.
Éramos pobres, mas vivíamos num lar feliz, apesar das dificuldades em
até conseguir o que comer.
No quintal havia um paiol onde
guardávamos o pilão, feito de um tronco de madeira maciça escavada, onde socávamos amendoim para fazer paçoca. Tinha também
o monjolo d’água e a jorna, que usávamos para
fazer farinha e quirera.
Sempre após as chuvas minha mãe ia plantar na horta. Eu a acompanhava, levando a enxada, para ajudar a capinar. O cheiro de terra molhada e o azul do céu se misturavam com as cores dos ipês, despertando magia, e formavam uma aquarela de fantasia, que tomava minha mente e fazia de mim um pássaro, um menino livre, pronto para realizar meus sonhos.
Mal via a hora de chegar o domingo,
reunir meus amigos, esquecer do mundo e brincar.Nossas brincadeiras eram
simples, porém muito divertidas. Brincávamos de trilha, búlica, esconde-esconde, pular corda, lenço atrás, peteca feita com pena de
galinha e palha de milho, bocha com bola feita de tronco
de varaneira e carrinhos feitos de tabuinhas.
Às vezes meu pai e minha mãe iam
passear à casa de meus avós. Eu e meus irmãos íamos junto. A
viagem durava o dia inteiro, o percurso era longo, a estrada, cercada por uma bela mata ainda pura. Quando a escuridão já tomava seu lugar,
chegávamos. A lua clareava o céu, meu pai fazia uma
fogueira no meio do terreiro, eu e meus irmãos puxávamos uns bancos e sentávamos todos em volta da fogueira, observando as
estrelas e escutando as piadas, prosas e causos contados
por meu avô.
Quando alguém adoecia, minha avó
preparava seus chás; se não estivessem fazendo efeito, meu pai
calçava alpargatas e esporas, colocava os arreios no cavalo, e saía a galopar em busca de curandeiros ou benzedeiras. Para ir mais rápido, ele e seu
tordilho iam pelos carreiros do meio da mata, percorriam
longos caminhos até chegar ao destino.
Em meio a tantas dificuldades, até
hoje moro na cidade de Santa Maria do Oeste, as barreiras aos
poucos foram sendo enfrentadas e, com muita luta, vencidas.
De minha juventude, recordo-me bem;
jogava truco e pife nos torneios. Nos bailes, chimangos e quermesses podiam se ver todos os rapazes e as mocinhas embalados pelo
vaneirão e fandango. Eu tocava gaita, sanfona,
fazia chorar a viola, fazia gemer o fole da cordeona. Minha felicidade era ver a animação do povo, cantando, dançando,
divertindo-se.
Hoje minha alegria é sentar no banco
da varanda e tomar meu chimarrão. O vento assovia e traz a
saudade que me faz lembrar de minha querência, de minhas raízes, de minha religião.
Lembranças que estavam adormecidas
aos poucos vão despertando e renascendo em mim como em um
filme. A magia se mistura com a saudade e por um instante sinto como se ainda fosse criança. Mas eis que um forte impulso me puxa. É a
realidade que me avisa: “O passado não vai voltar”. Vejo
então que toda essa fantasia é fruto da imensa saudade queteima em me
perseguir.
E, como dizia uma velha música, “meu
chapéu é de palha, meu chicote é de couro. Sim, sou caipira filho
de canarinho, neto de sabiá”. Guardo essas minhas histórias em minha memória dentro de meu coração, pois espero que nossa cultura não morra e
que se renove de geração para geração. Coisa rara
em meio a tantas evoluções. Só desejo que o progressonão mate nossos
sentimentos, nem domine nossos corações.
(Texto baseado na
entrevista feita com o sr. José Leszcgynski, 66 anos.)
Professora: Julieta
Maria Cartelli Simon
Escola: Colégio
Estadual José de Anchieta • Cidade: Santa Maria do Oeste – PR
Após ler o texto, responda:
a)- De quem é a história contada
nesse texto?
_
3. Como era o lugar onde essa pessoa passou sua infância? Em que
cidade e estado ficava?
4. Apesar da pobreza, o menino era feliz e tinha sonhos?
Retire do texto um trecho que justifique essa afirmativa.
5.O domingo era um dia especial, por quê?
6. Na visita aos avós, qual momento era especial para toda a família?
7. O que sabemos sobre a juventude do narrador?
8.No texto o narrador fala de uma vida cheia de lutas, mas também sobre
suas alegrias ou felicidade. Cite dois motivos de alegria para cada etapa de
sua vida:
9.Relacione o penúltimo parágrafo com o título.
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